O Eduardo Costa está a terminar o doutoramento e apresenta-se no job market nesta temporada com um estudo muito atual e inovador sobre o impacto das greves na saúde em Portugal. Fique a conhecer os resultados do mais recente trabalho do Eduardo (job market paper).
“License to kill”? O impacto das greves hospitalares
Nos últimos anos, as greves hospitalares em Portugal tornaram-se mais frequentes. O aumento das greves, e a consequente redução temporária na força de trabalho do hospital, podem ter consequências quer no regular funcionamento do hospital, quer nos resultados clínicos dos pacientes.
Este artigo analisa o impacto de curto-prazo de diferentes tipos de greves (médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico e terapêutica) nos resultados dos pacientes e atividade hospitalar. Esta análise utiliza informação recolhida sobre cerca de 130 greves ocorridas entre 2012 e 2018, bem como dados relativos a cerca de 12 milhões de admissões hospitalares, ocorridas no mesmo período. A junção destes dois conjuntos de dados permite determinar a exposição de cada paciente às greves hospitalares. De facto, os resultados sugerem que cerca de 9% dos pacientes tenham sido expostos a, pelo menos, uma greve durante o seu internamento. A minha estratégia empírica baseia-se na comparação entre os resultados dos pacientes expostos às greves hospitalares com aqueles que não foram expostos às greves. A comparação é feita tendo em consideração potenciais efeitos de seleção. Nomeadamente, variações nas caraterísticas dos pacientes e admissões (case-mix), caraterísticas dos hospitais e das regiões, bem como dinâmicas temporais a nível nacional e regional.
Os dados descrevem uma disrupção das atividades hospitalares durante as greves. De facto, verifica-se uma redução nas admissões, em particular das admissões cirúrgicas (que, em alguns casos, ultrapassa os 50%). Adicionalmente, verifica-se um aumento na proporção de admissões urgentes durante greves de médicos. Porém, para além da queda significativa da atividade cirúrgica, não se verificam alterações substanciais nas caraterísticas e diagnósticos dos pacientes admitidos em dias de greves.
Adicionalmente, não encontro evidência de altas antecipadas nos dias que antecedem as greves. Contudo, os resultados sugerem um aumento na taxa de readmissão hospitalar para pacientes expostos a greves depois de admitidos. Finalmente, estima-se um aumento de 6% na taxa de mortalidade hospitalar para pacientes admitidos em dias de greve de médicos. Conforme evidenciado pela figura, este efeito ocorre apenas durante as greves, não se verificando qualquer efeito na semana anterior ou posterior à greve.
Figura 1: Impacto da greve de médicos na taxa de mortalidade hospitalar (pacientes expostos à greve no dia de admissão; intervalo de confiança de 95%)
Os resultados sugerem que as greves, no curto-prazo, resultam em alterações substanciais na atividade hospitalar e podem levar à deterioração de resultados para alguns pacientes. Assim, as estimativas demonstram a relevância do papel dos profissionais de saúde e a importância da existência de mecanismos que evitem reduções substanciais de qualidade durante os protestos.
Eduardo Costa
PhD Candidate in Economics, Nova School of Business and Economics
Website: https://sites.google.com/view/costaeduardo
Email: costa.eduardo@novasbe.pt
Link para o artigo: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3414532