Muito se tem falado da saúde mental neste tempo de pandemia. Não só pelas consequências que o confinamento pode trazer, mas também pela situação económica em que o país se encontra. Muitas pessoas estão a lidar com situações de lay-off ou de desemprego sem terem perspectivas, num futuro próximo, de regressar ao mercado de trabalho. Esta situação, conjugada com o confinamento, assume um risco real para a saúde mental.
Desde o início da pandemia que vários profissionais de saúde foram alertando para as potenciais consequências da COVID-19 na saúde mental. No entanto, só passado um mês da entrada em vigor do Estado de Emergência, o Director do Programa Nacional para a Saúde Mental, na conferência de imprensa diária realizada no Ministério da Saúde, explicou como é que as pessoas podem lidar com a actual situação em que o país vive e que serviços de saúde mental têm à sua disposição. Foi também anunciado um site onde se pode encontrar respostas na área da saúde mental durante a COVID-19.
Numa pesquisa breve pelo site, é possível encontrar uma pequena explicação sobre os níveis de cuidados que devemos usar com base nas necessidades. Para tal, foi apresentada a pirâmide da Organização Mundial de Saúde que, sucintamente, apresenta o modelo ideal de organização dos serviços de saúde mental. Na base da pirâmide estão os cuidados que devemos ter para promover a saúde mental (nível de autocuidados; nível comunitário e familiar). No topo temos o nível mais elevado de cuidados, ou seja, os Departamentos de Psiquiatria e Saúde Mental (DPSM). Entre a promoção/prevenção e o nível mais elevado de cuidados, aparece os Cuidados de Saúde Primários (CSP) que devem ser o primeiro nível de resposta para quem precisa de ajuda. De acordo com esta pirâmide, deverá haver uma forte articulação entre estes dois níveis de cuidados.
Em Portugal, esta articulação entre os CSP e os DPSM tem falhado. Muito se tem escrito sobre a forma como estes dois níveis de cuidados se devem articular, mas pouco se tem feito para que essa articulação seja uma realidade. No entanto, temos verificado que, em tempo de pandemia, são necessárias respostas rápidas e articuladas. No site é referido que existem novas respostas adaptadas à COVID-19, onde a articulação entre os CSP e os DPSM está a ser promovida. A ser verdade, é importante que, após a pandemia, esta articulação se mantenha. É indispensável agarrar esta oportunidade para (re)pensar numa verdadeira reorganização dos serviços de saúde mental.
Maria Ana Matias
Centre for Heath Economics, University of York







