No atual contexto da pandemia de COVID-19, uma preocupação que não podemos ignorar é o impacto deste surto nos doentes com outras patologias, seja no acesso a consultas, exames ou cirurgias que necessitam, seja à medicação em tempo útil. Garantir à população a continuidade terapêutica para o controlo das suas patologias surge, assim, como uma premente necessidade, para assegurar o acesso e adesão aos medicamentos habitualmente cedidos em contexto de ambulatório hospitalar, evitando as deslocações aos hospitais de grupos de risco e contribuindo para a contenção da transmissão da doença.
O Governo deu “luz verde” a uma iniciativa de diversos parceiros do setor da saúde, que se mobilizaram em tempo recorde para acesso dos mais frágeis aos referidos medicamentos, através de um serviço de proximidade, gratuito, que garante a confidencialidade e liberdade de escolha, o cumprimento das normas de segurança em todo o circuito e o aconselhamento farmacêutico, em prol do doente.
A Operação Luz Verde resulta do esforço articulado entre profissionais da saúde (farmacêuticos, médicos e administradores hospitalares), hospitais, distribuidores farmacêuticos e farmácias, com o apoio institucional das Ordens dos Farmacêuticos e dos Médicos, e de associações de doentes, para uma resposta de proximidade que facilita a vida aos doentes, seus cuidadores e familiares na gestão da doença crónica.
No primeiro mês beneficiaram desta iniciativa 8.306 pessoas com doença crónica (com cancro, VIH/sida, esclerose múltipla ou outras patologias), recebendo medicamentos hospitalares através da sua farmácia local preferencial ou ao domicílio, evitando deslocações desnecessárias ao hospital. A Operação Luz Verde envolve já sinergias de 1.980 farmácias comunitárias em Portugal Continental e Regiões Autónomas, 33 hospitais e 15 associações de doentes, sendo expectável o crescendo deste esforço solidário.
Este é um exemplo de uma resposta concertada entre vários intervenientes, trabalhando como parceiros para gerar valor social, com grande potencial de redução de custos para o sistema de saúde e doentes (como os custos e tempo de deslocação até aos hospitais) e promissores ganhos em saúde e de satisfação para as pessoas que vivem com doença crónica. Alguns serviços já foram experienciados em projetos pilotos: no Hospital Curry Cabral (com terapêutica antirretroviral, TARV), registando níveis elevados de satisfação dos doentes e cumprindo o objetivo primordial de adesão à terapêutica, e, mais recentemente, no Centro Hospitalar e Universitário de São João (Farma2Care).
Terminada a conjuntura excecional que vivemos será importante avaliar a dimensão do valor social gerado por este serviço de proximidade com a devida articulação com os hospitais de referência, alicerçado na liberdade de escolha dos doentes, com lições aprendidas para humanizar a prestação de cuidados de saúde e da salvaguarda da saúde pública.
Inês Teixeira
Centro de Estudos e Avaliação em Saúde, CEFAR/INFOSAÚDE/ANF