À semelhança do que aconteceu no ano passado, partilhamos na newsletter o artigo científico que mereceu a distinção do júri do Prémio Pita Barros em 2020. A Ana Moura, autora do artigo laureado este ano, apresenta-nos brevemente a motivação deste estudo, os resultados e as implicações que os autores destacam no final do estudo.
“Causes of regional variation in healthcare expenditures in the Netherlands: Evidence from movers”
Autores: Ana Moura, Martin Salm, Rudy Duven, Minke Remmerswaal
Variações geográficas na utilização de cuidados de saúde e na despesa com saúde têm sido documentados para diversos países. Regiões próximas, com população e instituições semelhantes, apresentam frequentemente discrepâncias substanciais e persistentes no que toca a estas métricas.
Não é fácil identificar as causas destas variações. A literatura distingue factores do lado da procura e factores do lado da oferta. Factores do lado da procura incluem diferenças na estrutura (sócio-)demográfica e no estado de saúde da população, diferentes preferências e atitudes dos indivíduos relativamente ao consumo de cuidados de saúde, estilo de vida, entre outros. Por seu lado, factores do lado da oferta incluem potenciais diferenças no preço dos cuidados de saúde, no número de médicos na região e respectiva prática clínica, bem como níveis de poluição, entre outros.
Este artigo estuda variações geográficas na despesa individual com saúde nos Países Baixos. O objectivo principal é identificar a importância relativa de factores do lado da procura e da oferta como causas das variações geográficas entre regiões holandesas.
A análise utiliza dados individuais anuais relativos à despesa com saúde de toda a população holandesa para um período de 8 anos. A principal estratégia empírica consiste em seguir indivíduos que migram entre regiões holandesas com diferentes níveis de despesa média com saúde, e avaliar como é que as suas despesas com saúde se alteram com a mudança.
Como é que utilização de migrantes permite separar efeitos do lado da oferta e da procura? Imagine-se um indivíduo oriundo da região de Utrecht, caracterizada pela mais baixa despesa média com saúde (€1,758 por ano), que migra para a região de Limburg, caracterizada pela mais elevada despesa média com saúde (€2,181 por ano). Se toda a diferença em termos de despesas com saúde entre Utrecht e Limburg tiver origem em factores do lado da oferta, então espera-se que a despesa com saúde deste individuo aumente aquando da sua chegada a Limburg. Por outro lado, se a população de Limburg for simplesmente mais doente do que a de Utrecht, então não se espera que tenham lugar alterações significativas na despesa com saúde deste indivíduo, uma vez que este continua a ter as mesmas necessidades individuais em termos de cuidados de saúde.
Os resultados da análise sugerem que, nos Países Baixos, 30% da variação geográfica em termos da despesa com saúde é atribuída a factores do lado da oferta.
Em termos de implicações para política de saúde, este resultado contrasta com a visão dominante no debate holandês (e noutros países) de que variações geográficas na despesa com saúde tendem a refletir factores do lado da oferta. Em particular, sugere que a popular adopção de medidas que restringem factores do lado da oferta a fim de reduzir variações geográficas na despesa com saúde não produzirá efeitos substanciais, pois a principal causa destas variações prende-se com factores do lado da procura.
Ana Moura
Tilburg University
Leia o artigo completo em https://doi.org/10.1002/hec.3917.