
As listas de espera para cirurgia programada têm sido um problema persistente no acesso à saúde em sistemas de saúde públicos, sistemas maioritariamente financiados com impostos. Com o surgimento da Covid-19, a capacidade hospitalar, que numa fase inicial se previa responder com muita dificuldade ao crescimento de novos casos, dedicou-se integralmente aos pacientes-covid, fazendo com que o tratamento de pacientes considerados menos urgentes fosse adiado.
O medo instalado pela pandemia também contribuiu para que muitos pacientes optassem por faltar/adiar tratamentos ou por não serem submetidos a cirurgia logo que fora possível.
Assim, porque as outras doenças não deixaram de existir, a lista e os tempos de espera foram aumentando de forma ainda mais dramática. No período pré-covid já se mostrara que o não cumprimento dos tempos de resposta, associados a cada nível de prioridade, podia expor o paciente a cancelamento dos cuidados médicos, devido à deterioração da condição clínica, ou mesmo por óbito. No período pós-covid, será então fundamental aumentar a capacidade de resposta do SNS, não apenas para reduzir os tempos de espera, mas também para melhorar a gestão dos níveis de prioridade.
Uma das medidas a adotar passará pelo financiamento extra a atividade cirúrgica no SNS, com pessoal de saúde adicional, ou com extensão do horário de trabalho. Sendo de notar que esta medida só poderá ser considerada em hospitais que operam abaixo da sua capacidade total. Uma medida adicional passará por fazer acordos com o setor social que, no passado, já mostraram resultados positivos no combate às listas de espera.
Joana Cima
Faculdade de Economia da Universidade do Porto, NIPE