Economia da saúde, em tese #1
Inauguramos aqui uma nova rubrica na qual os recentes doutorandos em Economia da Saúde apresentam os resultados de alguns dos seus trabalhos para a tese de doutoramento. Nesta primeira edição ficamos com um resumo da investigação do Luís Filipe.
Mais uma voltinha no sistema de saúde
Há falta de melhor nome a minha tese de doutoramento poderia chamar-se tópicos em Economia da Saúde. Mas na verdade, esta apresenta uma boa descrição do que é a vida de um utilizador de um sistema de cuidados de saúde, pelo que o título escolhido é mais apropriado. Nos três capítulos que a completam, falo de 3 partes do sistema: urgências hospitalares, internamentos hospitalares e cuidados continuados oferecidos informalmente.
No primeiro capítulo, a pergunta de investigação visa compreender como é que o serviço de urgência de um hospital Português da cidade de Lisboa reage quando o número de utentes em espera aumenta. Neste manuscrito, que escrevi em parceria com o meu amigo Bruno Martins, mostramos que à medida que o número de utentes na sala de espera aumenta, os médicos de serviço diminuem o tempo que dedicam a cada utente. A título de exemplo, 5 pessoas a mais na sala de espera contribuem em 30 minutos, em média, para a diminuição do tempo de tratamento. Neste artigo, verificamos também que as “filas de espera” reduzem a probabilidade de que o médico envie o utente para que faça exames ou tratamentos complementares. Mas não se preocupem, os nossos médicos são bons e estão a fazer o melhor que podem para tratar a todos com os recursos de que dispõem. Na verdade, os efeitos referidos são apenas verificados para utentes com níveis de urgência baixos, o que significa que os médicos só reduzem o tratamento a pessoas cuja probabilidade de serem afetadas por esse decréscimo é baixa. Por fim, concluímos que durante períodos de maior ocupação das camas hospitalares os nossos médicos também enviam menos pessoas para os serviços de internamento hospitalar.
No segundo capítulo, eu coloco a mesma questão aos serviços de internamento. Como será que os médicos reagem quando começam a faltar camas e profissionais para tratar dos doentes? Ora, o meu estudo sugere que quando os utentes recebem alta num período de maior ocupação hospitalar a probabilidade que sejam readmitidos num período de 30 dias aumenta. Este resultado é verdade sobretudo para pessoas mais velhas e que tenham recebido alta depois de um período de internamento inferior ao expectável para a sua condição. Novamente, acredito que os nossos médicos fazem um importante esforço para garantir que oferecem tratamento a todos, mas quando a pressão aumenta alguns utentes mais vulneráveis são afetados pela escassez de recursos.
Por fim, no terceiro capítulo, o meu trabalho leva-me a estudar parte dos cuidados que são oferecidos em casa e por pessoas que não são profissionais do sistema de saúde. Neste caso, estudei as possíveis consequências na saúde daqueles que prestam cuidados informais ao seu cônjuge ou parceiro. Quando o apoio dado pelo cuidador é apenas em cuidados pessoais (ajudar a sair da cama, a vestir-se, tomar banho, etc…) os efeitos médios na sua saúde física auto reportada podem ser positivos. No entanto, estes resultados são apenas verdade para cuidadores que possuem um nível elevado de saúde física, indicando que cuidar pode ser bom para melhorar ligeiramente a sensação de bem-estar físico de quem já se encontra bem. No que diz respeito aos cuidadores que apresentam piores índices de saúde física podem ser encontrados efeitos negativos na saúde mental auto reportada, indo ao encontro da literatura existente.
Estes três documentos completam uma volta interessante ao sistema de saúde, ficando apenas a faltar alguma referência aos cuidados de saúde primários, que deixo a cargo da Joana Pestana, que em breve fará um resumo da sua investigação.
https://sites.google.com/view/luiscoelhofilipe
Luís Filipe – Aluno finalista de doutoramento na Nova School of Business and Economics